segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Cruzando a fronteira gastronômica



por Matheus Ferraz




O italiano David Nacci é arquiteto de profissão, mas como tantos outros de seu país, adora cozinhar. A mudança de continente e de cultura pode ser um pouco arriscada para quem, como ele, não abre mão de pratos que vão além do trivial; mas ele conta como, com algum jogo de cintura, é possível ultrapassar estas barreiras, trazendo a culinária do seu país e incorporando sabores tipicamente brasileiros para as suas receitas tradicionais.




Quais foram as maiores diferenças que você encontrou entre a culinária italiana e a brasileira?


Entre as maiores diferenças está a fácil aproximação de sabores que eu julgo muito diferentes. Esta é, entretanto, uma ótima forma de experimentar novas combinações na cozinha, aliás o meu modo italianíssimo de cozinhar está evoluindo muito graças a esta experiência culinária.




Você encontrou alguma dificuldade para encontrar algum ingrediente por aqui?


Não particularmente, mas notei que os produtos que vão além do básico para a alimentação têm um preço muito alto no Brasil, talvez por ser um mercado não muito difundido.




Entre as receitas que encontrou no Brasil, teve alguma que te fez pensar "não acredito que estou comendo isso!"?


Sim, pizza com frango e queijo, bacon e milho! Digamos que 95% dos italianos não teriam coragem de assar isso.




Quais são as suas receitas preferidas?


Macarrão farfalle ao pesto siciliano (muito diferente do pesto ao genovês), figado ao nabo, risoto de iogurte, pistache e romã.



Considerando que o Brasil é um país acostumado ao tradicional feijão com arroz, você encontrou algum preconceito quanto a receitas mais sofisticadas?


Não, os brasileiros também adoram receitas extremamente sofisticadas, e considerando que a cozinha italiana é muito simples, às vezes é difícil mostrar que com muita facilidade e um pouco de método, todos podemos cozinhar pratos excepcionais da cozinha italiana. Às vezes o resultado é tão maravilhoso que não acreditamos que usamos tão poucos ingredientes e tempo para fazer o prato que estamos saboreando.




Receita do macarrão farfalle siciliano







Ingredientes:




140 gr de macarrão farfalle


200 gr. di tomates sem pele


20 gr. de pinha para o pesto+ 20 gr. para servir


50 gr de ricota


50 cl. De óleo


5-6 folhas de manjericão


sal





Procedimento:


Ferva o macarrão, e, no processo junte os tomates cortados, as pinhas, o majericão, uma pitada de sal e o óleo em uma vasilha de bordas altas. Bata no liquidificador até que se torne um creme. Em uma frigideira, toste as pinhas restantes até dourarem. Escorra a massa, misture com o tempero preparado e decore com o resto do majericão e as pinhas tostadas. Pronto para ser servido.

Uma apaixonada pela gastronomia

                                                        Foto: Jair Campos
Por Junia Ramos

Luciana Dietze, 31 anos, natural de Belo Horizonte, publicitária e criadora do blog Canção do Sal  conta como surgiu o interesse pela Gastronomia pela qual é apaixonada.

Para ela é uma herança familiar. E de acordo com suas crenças, uma herança que vem também de outras vidas. Mas pelo que aqui conhecemos, começou assim: cresceu vendo sua avó fazendo empadinhas, bolos confeitados e outras tantas delícias. Suas tias e sua mãe se juntavam a ela, e passavam finais de semanas se entupindo de comidas! O seu paladar desde então já era muito incentivado, e sua curiosidade em vê-las cozinhando também. Sua brincadeira de fazer comidinha não podia ser de mentira, tinha que ser com fogãozinho de tijolo e panelinhas de ferro, fazendo comida de verdade! Quando tinha uns 9, 10 anos, sua mãe já autorizava a brincar na cozinha dela e chegou a matriculá-la em um curso de férias oferecido pela Walita, onde aprendeu pela primeira vez a culinária de maneira formal. Bom, a partir daí sua diversão era assistir programas de culinária, ler livros de culinária, fazer testes na cozinha. Como o retorno das pessoas, graças a Deus, era sempre positivo, o incentivo aumentava. Realmente percebeu que além do interesse, ela possuía dom.

Há alguns anos começou a frequentar blogs de culinária entre eles os mais frequentes são figosefunghis.com.br e saborcomletras.wordpress.com, alimentou um sonho de ter o seu. Quando começou a entender um pouquinho mais da ferramenta, criou o seu espaço, um lugar para compartilhar algo que lhe dá tanto prazer e que poderia ser uma vitrine para um possível caminho profissional na gastronomia, que pretende seguir em breve.
O nome “canção do sal”, veio de encontro à essência do blog. Luciana é uma pessoa de várias ocupações. Além de publicitária, estuda música e tem uma banda há 10 anos. São duas grandes paixões: a música e a gastronomia. Como sempre cozinha cantando e ouvindo seus vinis, e não consegue separar essas duas artes que são sua expressão de vida, resolveu fazer um blog que estabelecesse esse diálogo. Procurando um nome que se adequasse, pensou em vários, mas se realizou mesmo quando, como um sopro, veio o nome dessa música que ama e que foi composta por um ídolo, Milton Nascimento. Além disso, ela foi gravada por Elis, sua grande inspiração. Então não teve dúvida, canção do sal expressava tudo que ela queria.

Para Luciana , na história da humanidade, a comida sempre foi uma forma de encantamento. Mas, atualmente , acha que por um fluxo natural do mundo moderno, temos mais informação, mais acesso, mais espaço de discussão e prática. Percebe uma força da mídia também, que inevitavelmente lança e/ou reforça tendências. Filmes, livros, novelas têm sido grandes palcos da gastronomia nos últimos meses. Em virtude da divulgação, acha que as pessoas podem estar se interessando mais pela gastronomia. Na sua opinião cozinhar bem, se tornou mais fácil. É claro que é preciso ter dom, como qualquer outra atividade. Mas o acesso fácil à informação facilita muito. Hoje, se você nunca tiver experimentado um ingrediente, se não souber como é sua aparência, como é sua forma correta de utilização, como enaltecer seu sabor, enfim, se tiver dúvidas que antes só podiam ser esclarecidas em um curso ou livro especializado, você pode buscar na internet e ter um suporte legal de conhecimento. Além disso, os ingredientes estão cada vez mais acessíveis, falo no sentido de conseguir encontrar alguns produtos que antes eram exclusivos aos profissionais.

Cozinhar não é uma questão de genialidade, a cozinha é para todos. È claro que existem os gênios, e sua comida terá grandes diferenciais. Mas é legal pensar que os gênios não são necessariamente profissionais formados. Sua avó era genial na cozinha, assim como sua mãe, sem nunca terem estudado sequer um livro comum de culinária. Luciana cita como exemplo um casal de amigos no interior de Minas que são semi-analfabetos, e a comida deles para ela é uma das melhores do mundo. Então, diz que cozinhar bem pode ser uma realidade para todos, mas todos aqueles que se entregarem de corpo e alma à magia dessa arte de entender os ingredientes, de conhecer os processos pelo cheiro, pelo som, pela aparência. Não dá para cozinhar apenas para matar a fome do corpo, é preciso cozinhar com o objetivo de encantar. Para isso não é preciso ser gênio, mas é preciso fazer com amor.
Em relação a fazer pratos gourmet e pratos tradicionais para ela não há diferença. Você pode transformar pratos tradicionais em pratos gourmets, e vice-versa. Mas no mercado existe sim uma distância entre eles. Os pratos gourmets exigem ingredientes requintados e processos mais elaborados. Diz não ter preferência, ama novas experiências. Mas na prática, se dedica mais aos pratos tradicionais.

Luciana afirma que Minas tem uma culinária mais rica se comparando com a de outros estados. Acha que no Brasil, a culinária de Minas e Bahia são muito ricas e deliciosas. Não podendo falar de todas pelo fato de não ter viajado o país inteiro, mas dos estados que conhece, Bahia e Minas na sua opinião apresentam pratos mais saborosos, que provém da riqueza de ingredientes e da importância que a culinária tem na cultura dessas pessoas. Se alguém visita Minas, já pensa logo em começar a comer. É assim com todos os músicos com os quais convive de outros estados, eles se deliciam! Já quando vai à Bahia, também tem o mesmo comportamento. “Aqui em Minas damos uma grande importância em reunir a família em torno de uma mesa repleta de comidas. E assim, com o passar dos anos, fomos aprimorando e fazendo das nossas comidas um patrimônio cultural. Mas seu lado filosófico (risos) diz que não existe melhor ou pior, para cada um existe uma verdade, certo?!” declara. Mas em termos de riqueza, acha que podemos afirmar que a culinária mineira e a baiana são campeãs.

Conta que sem dúvida se tornou mais exigente em relação à comida. Seu marido também é, mas ela chegou em um ponto que até ele já reclama. Não consegue comer uma comida mal feita, chega a ter raiva de comer algo só para não ficar com fome. Tem necessidade de comer algo que transfira energia, alegria. Quando come, é inevitável, fica imaginando o processo de feitio, pensando em qual panela foi feita, como o ingrediente foi cortado, porque foi cozido até aquele ponto, qual a melhor forma de servir, e muito mais, tudo isso em uma fração de segundo, o tempo de uma garfada. Quando come algo muito bem feito, fica querendo dar um abraço em quem fez. Conta que certo dia estava tocando em uma festa e, no intervalo, comeu uma feijoada deliciosa, dava para sentir o capricho e o amor da cozinheira. Quando ela saiu da cozinha, foi automático, correu até ela, parabenizou e lhe abraçou. É uma gratidão por ter partilhado algo que estava dentro dela. A comida é algo muito importante, então não dá para não ser exigente. Além disso, a bagagem de conhecimento também te faz mais crítico, você tem referências do que é bom, aí fica difícil aceitar o ruim.

Quando indagada sobre das receitas que já fez, e qual foi o prato predileto, Luciana diz: “Pergunta difícil!! Adoro fazer comidas mineiras de roça, sabe. Aquela coisa de aproveitar ao máximo as caças e usar os miúdos. Adoro fazer língua de boi, pescoço de peru, rabada, dobradinha, vaca atolada,etc. É até um desafio, as pessoas geralmente torcem o nariz, então você precisa superar essa barreira e surpreender com o sabor. Acho que virei especialista em fazer as pessoas comerem algo que julgavam não gostar (risos)! Mas como para mim a gastronomia é uma expressão de vida, a cada dia diferente tenho uma predileção, vai de encontro com o sabor que a vida me exige naquele dia. E assim posso mudar de preferência drasticamente! Há dias que não consigo nem pensar em carne, aí adoro fazer dois pratos que conheci e fiquei fã, o quibe vegetariano que é feito com abóbora; e conchiglione recheado de espinafre e gorgonzola. Quando estou querendo aconchego, só consigo pensar em fazer um bolo quentinho. Meus prediletos são de cenoura (receita da minha mãe que ela jura que é minha), de chocolate com mel , (receita de infância, da mãe de uma amiguinha) e de leite de coco (receita da minha mãe). Uma grande paixão é o bolinho de bacalhau, ele tem lugar garantido na minha lista de preferências.” conclui.

Para receitas e contato acesse o blog cancaodosal.wordpress.com  

Ouça um trecho da música e aprecie alguns pratos de Luciana Dietze.